20 estudantes estão ameaçados de “eliminação” da USP por conta de seu ativismo político. Quatro deles por conta da ocupação da reitoria da USP em 2007, e 16 pela retomada de parte da moradia do CRUSP durante este ano. Todos eles respondem a processo administrativo por “praticar ato atentatório à moral ou aos bons costumes”, “perturbar os trabalhos escolares e a administração da universidade”, “atentar contra o nome e a imagem da universidade”. E a pena para tais acusações é a eliminação (expulsão somada a mais 5 anos de afastamento obrigatório da instituição). Todos eles são acusados com base em um decreto da Ditadura Militar (52.906, de 1972),
Tal decreto foi instituído sob a égide do AI-5 e redigido pelo ex-reitor da USP, Gama e Silva. Ele vigora de forma “transitória” há algumas décadas e, inconstitucionalmente, ainda proíbe greves e manifestações políticas, prevendo sanções para quem “promover manifestação ou propaganda de caráter político-partidário, racial ou religioso, bem como incitar, promover ou apoiar ausências coletivas aos trabalhos escolares; afixar cartazes fora dos locais”. O Regimento da USP foi parcialmente reformado em 1988. Entretanto, mais de 25 anos após o fim da ditadura no Brasil, seus fundamentos arbitrários ainda são mantidos. Isso nos faz retornar à importante questão da estrutura de poder na USP. Até hoje, é o governador do Estado de São Paulo quem define o nosso reitor – neste caso, o mesmo governador que em 2009 permitiu que a polícia militar entrasse no campus para atacar sua comunidade universitária, fato que não havia mais ocorrido deste a redemocratização do país.
Ao mesmo tempo, trabalhadores da USP e seu sindicato – SINTUSP – sofrem mais de 20 processos por realizarem greves e manifestações (direitos constitucionais) na luta pela isonomia salarial. Professores também estão sendo atingidos, como é o caso do professor do instituto de Ciências Biomédicas, punido por denunciar à imprensa irregularidades nos laboratórios de sua unidade.
Em dezembro próximo completarão dois anos da demissão do dirigente sindical Claudionor Brandão. Abriu-se ali um precedente punitivo que ainda não conseguimos reverter. Estamos vivendo um momento político onde a direita se investe mais uma vez de sua eficiência tão rogada para combinar demissões por condutas tidas como inadequadas e por posicionamento político e ativista. Ambas para indicar aos alunos e ao trabalhador da USP (e aqui já incluso os professores) o modelo de universidade em disputa. Seu projeto de modernização acadêmica – calcado em premiações para as faculdades e institutos “mais eficazes”, incentivando “a competição entre os diferentes núcleos da USP”, coordenado quiçá por “um processo de seleção natural no próprio mercado” – é abertamente avesso ao ativismo sindical e estudantil (artigo concedido pelo reitor J. G. Rodas à Revista Veja, também em anexo).
Convidamos a todos para que divulguem esta carta e assinem a moção de apoio que a acompanha.
Moção de Apoio aos estudantes, trabalhadores e professores
da USP ameaçados de punição por questões políticas
Nós, abaixo assinados, em nome da tradição de liberdade política, científica, acadêmica e cultural que deve vigorar no interior de toda e qualquer universidade, viemos por meio desde documento pedir:
1. que a Universidade de São Paulo suspenda imediatamente todos os processos de
perseguição e punição que está promovendo contra os membros da sua própria comunidade universitária, sobretudo contra os estudantes ameaçados de expulsão;
2. e que a Universidade de São Paulo, em respeito à cultura democrática que está sendo construída no Brasil e à tradição de liberdade que deve vigorar na cultura universitária, revogue imediatamente o código disciplinar instituído pelo Decreto nº 52.906, de 27 de março de 1972.
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